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sábado, 3 de janeiro de 2015

Câncer do Testículo - "Primum non Nocere"

"No câncer de testículo estadio clínico Iobservação é a regra."



Atualizado em junho/2018
Leandro Miranda



Um estudo retrospectivo publicado na edição de Janeiro de 2015 do JCO, com mais de 10 anos de seguimento de 2.483 pacientes oriundos de vários centros mundiais (Suécia, Reino Unido e EUA), mostrou que, após a orquiectomia radical, a recorrência do tumor foi de 10 a 20%, ocorrendo em geral nos primeiros 2 a 3 anos.

Nesse trabalho, os tumores que mais recorreram, como era de se esperar, foram aqueles não-seminomatosos e com invasão angiolinfática (20% de recorrência), em comparação aos seminomatosos (10%). Quando recorriam, os primeiros o faziam mais precocemente (90% nos 2 primeiros anos de seguimento), enquanto os último mais tardiamente (90% nos 3 primeiros anos).

Esses dados nos permite supor que é viável observar pacientes estadio I (relembre a classificação) após a orquiectomia radical, principalmente os de baixo risco. A probabilidade de recorrência tumoral é baixa e, quando ocorre, acontece nos primeiros 2-3 anos.

O que isso significa? Simples. Apenas vigilância pode evitar que 80% dos pacientes sofram desnecessariamente uma linfadenectomia retroperitoneal. Além do mais, a conduta expectante tem a vantagem óbvia: privar o doente das complicações da cirurgia e da quimio ou radioterapia complementares, como infertilidade, ejaculação retrógrada, cistite, enterite e até surgimento de novos tumores futuros.

Logicamente, para ser elegível à observação,  o paciente precisa ter seus marcadores negativados e não apresentar massa retroperitoneal ou mediastinal suspeita.
A sobrevida câncer específica geral foi de 99,7% em 5 anos, mostrando que "não fazer nada" nesse caso compensa.

Não é um estudo prospectivo com grande seguimento e com grupo controle, mas sem dúvida é um estudo esclarecedor e corrobora o que já fazemos há algum tempo: "PRIMUM NON NOCERE".



Referência:

1. Kollmannsberger C et al. Patterns of Relapse in Patients with Clinical Stage I Testicular Cancer Managed with Active Suveillance. JCO, January 2015 Vol. 33